Abstrakt (Bild in Motion), 1997
Vídeo, PAL, cor, sem som (em loop)

Vídeo realizado a partir da filmagem, com a câmara em movimento quase colada à tela, de uma pintura abstracta de grandes dimensões de Gerhard Richter (Abstraktes Bild, 1987, óleo sobre tela, 260 x 400 cm). As imagens, algumas delas com velocidades alteradas, foram montadas numa sequência que se oferece como uma coreografia de manchas, cores e luz. Na sua primeira apresentação, em 1997, o vídeo tomou a forma de uma intervenção de arte pública, sendo retroprojectado na vitrine de um café desactivado na praça central das Caldas da Rainha. Ele é agora exibido num pequeno ecrã lcd de quatro polegadas com as mesmas dimensões que as do monitor lcd da câmara Hi-8 com que as imagens foram captadas, ou seja, à escala real (1:1).

São Paulo 24 Set 01, 2001
Vídeo, PAL, cor, sem som (em loop)

Imagem de uma grande metrópole urbana (São Paulo), captada num único plano fixo. Num primeiro momento, julgamos estar diante de uma imagem fotográfica, transferida para um vídeo mostrado em ecrã de plasma, a tal ponto ela é dominada pela presença estática dos prédios. Numa visão mais atenta, percebe-se, por entre a floresta de prédios, uma linha ténue de movimento, um formigueiro incessante (na realidade, o tráfego automóvel numa avenida), que contradiz essa primeira impressão. O vídeo não tem princípio, meio e fim, é como a eternização (conseguida através do loop) de um segmento de tempo na paisagem urbana. Tomando a pintura como horizonte de construção da imagem e da experiência da sua percepção (através do plano fixo e único, da composição, da redução do movimento interno, da ausência de duração, do emolduramento pelo ecrã de plasma, e da ausência de som), este vídeo configura uma utilização muito sui generis do medium, um desvio radical em relação aos seus usos convencionados na arte contemporânea. Nota-se, por outro lado, como em outros vídeos do artista, uma reactualização da tradição do sublime, tendo como objecto da representação, já não a paisagem natural, mas a grande metrópole urbana.

My Bloody Valentine, 2000
Vídeo, PAL, formato panorâmico (16:9), cor, som, 7’13’’

Rui Toscano narra, na primeira pessoa, a história da transformação de um sonho em pesadelo. A passagem de um estado a outro é representada por um fenómeno, dir-se-ia maligno, de contaminação progressiva da imagem e da música. Uma curta sequência introdutória, composta por cinco planos, mostra o cenário (um parque), o personagem (o próprio artista) e a situação (o artista deita-se na relva e contempla o céu). Segue-se, até ao final, um longo plano subjectivo do céu, que se vai tingindo lentamente de vermelho, até desembocar num plano monocromático puro. O espectador toma consciência desta mudança progressiva na imagem sem, no entanto, conseguir percepcioná-la no momento em que está a acontecer. Paralelamente, a música (uma remistura feita por Surgeon do tema Fear Satan de Mogwai) desliza de um onirismo tranquilizante para um ambiente cada vez mais ameaçador e opressivo. Deste modo, My Bloody Valentine proporciona uma intensa experiência perceptiva e emocional susceptível de induzir no espectador uma identificação com uma narrativa construída como auto-retrato interior.

To the Mountain Top, 2004
Vídeo, PAL, preto e branco, som, 10'58''
(excerto)

Desde 2002, Rui Toscano tem vindo a realizar uma série de desenhos cujo motivo é a paisagem urbana de São Paulo: desenhos a preto e branco, feitos com marcador de feltro, a partir de diapositivos reenquadrados em função das decisões ao nível da composição. Em To the Mountain Top, o artista seleccionou fragmentos de alguns destes desenhos, com imagens de prédios, submeteu esses fragmentos a um movimento regular de travelling de baixo para cima, e ligou-os numa sequência, de acordo com uma lógica narrativa e rítmica que permite ao espectador reconstituir uma totalidade irredutível aos desenhos originais, uma cidade utópica que se organiza verticalmente. Dá-se uma progressão de planos mais abertos (que possibilitam referenciar parcialmente as imagens) para planos sucessivamente mais aproximados (onde as imagens vão adquirindo uma maior abstração), até se desvendar, num plano geral conclusivo, o céu por cima do recorte dos prédios. Os movimentos ascencionais, inicialmente lentos, vão tornando-se progressivamente mais acelerados, para sofrerem na parte final uma desacelaração.

The Foyer Affair, 2001
Vídeo, PAL, formato panorâmico (16:9), cor, som, 6’11’’

Filiando-se, tal como My Bloody Valentine, no género da auto-representação, este vídeo aproxima-se do anterior pela utilização, na construção da narrativa e da experiência de percepção visual e cognitiva, de um efeito de mistura lenta entre uma imagem figurativa e um plano monocromático, assim como pelo uso da cor e da música como veículos privilegiados da representação e da narrativa. No entanto, é como um negativo do vídeo anterior, um auto-retrato exterior cheio de ironia e despojado de psicologismo. A montagem e a música instauram uma descontinuidade, tanto em termos narrativos como formais, marcando a divisão do vídeo em duas partes claramente distintas. Na primeira parte, deparamos com um personagem, impecavelmente vestido e em poses estilizadas, no cumprimento de uma missão punitiva – o artista auto-retrata-se inspirando-se para tal nos códigos de representação do herói justiceiro de certos filmes de acção (em particular, dos filmes de John Woo). As imagens em câmara lenta encadeiam-se numa montagem acelerada, ao som do tema Cerimonies Against the Night of the Devil de Bachir Attar. Na segunda parte, ao som do tema Girlfren dos Mercury Rev, um plano único mostra o personagem, em pose estática e auto-confiante, a fumar tranquilamente o seu cigarro, depois de cumprida a missão. A imagem vai sendo misturada com um plano de cor azul até se transformar num plano monocromático.