PINTURA/DESENHO
José Loureiro
PORTA33 — 28.05.2011 — 30.07.2011

José Loureiro apresenta na PORTA33 do Funchal um conjunto de pinturas e desenhos de 2004. Desenhos e pinturas registam um processo de grande vibratilidade: riscas que se encurvam dando a ilusão de se prolongarem indefinidamente num espaço que vai muito além da dimensão do papel. Uma duplicidade da pintura tem lugar, como se esta se desdobrasse em dois espaços simultâneos que entre si organizam e lançam, para um não quantificado espaço, um surpreendente cromatismo e uma forte fulguração.

Trata-se de uma obra onde se jogam a par de um discreto e sabiamente usado rigor, camadas imaginísticas articuladoras de presenças figurativas, quase rompendo o cânone da figuração pela presença dos fortes fundos abstractos. Irrompem, assim, dessa zona entre dois processos que conseguem configurar uma tonalidade unitária e, ao lançarem-se no campo da superfície da pintura, trazem consigo uma energia que as prolonga e projecta muito além. Objectos que encontram na sua própria pujança material — o ponto físico de onde partem —, um mundo de sedução que os conduz a pulverizar numa projectada e infinda mobilidade a sua existência finita. Assim, uma cadeira exemplifica o seu percurso no espaço, através de uma fuga ao próprio objecto “cadeira”. Vai representar-se com a velocidade vibrátil e fisicamente imaginativa de uma ideia que rompe o seu instável e inicial processo de composição, para adquirir uma ininterrupta condição de vida imaginária. Procura e encontra, dentro e fora do orgânico espaço da pintura, a sua veloz condição de carga cinética. Em muitas das pinturas este mesmo universo encontra a sua expansão na luminosidade de riscas que conduzem um vibrato, uma quase química de irradiações. Conduzem e expandem, enquanto pintura, razão e prazer.

Num exercício notável, estes trabalhos recentes de José Loureiro sublinham, sem qualquer dúvida, a sua presença cimeira na arte portuguesa contemporânea e encontram entre os seus pares, quer nacionais quer estrangeiros, uma segura e constante afirmação.

João Miguel Fernandes Jorge
Lisboa, 3 de Dezembro de 2004

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