PORTA33 — 24.10.2025 - 17h00
FILM NOIR
Sábado 25.10.2025 — 17h00
Entrada Livre
Masterclass por Luís Miguel Oliveira
PORTA33 [ACOLHIMENTOS]
Uma iniciativa de Screenings, Funchal — Cinemas NOS
Saiba mais em screenings.pt
A convite do Festival Screenings Funchal, Luís Miguel Oliveira conduz uma masterclass sobre o cinema noir, explorando não apenas a sua estética, mas sobretudo o seu universo moral. A sessão propõe uma reflexão sobre a construção de personagens, os dilemas éticos e a ambiguidade moral que definem o género, mostrando como narrativa, luz e sombra traduzem valores, tensões e a complexidade de um imaginário cinematográfico. A masterclass realiza-se na Porta 33, em parceria com o festival, no próximo sábado, dia 25, às 17h, com entrada livre.
4.ª edição do festival - Screenings FunchalOito anos após o seu início, o Screenings Funchal apresenta a 4.ª edição do festival, com oito sessões dedicadas ao film noir, um dos territórios mais ricos e enigmáticos da história do cinema. Produto do desencanto do pós-guerra e da tensão social de uma América em rápida transformação, o noir reflete ansiedades, desconfiança institucional e a desilusão com o sonho americano, onde a promessa de ordem e moralidade cede lugar à dúvida, alienação e desejo.
Nesta edição a programação presta homenagem à riqueza formal e temática do noir. Mais do que estilo visual trata-se de uma forma de olhar o mundo, um cinema onde tudo é posto em causa, onde a verdade está sempre por um fio, e onde cada escolha tem um preço. Filmes como estes não são apenas clássicos, são testemunhos de um tempo e de uma inquietação que, de certo modo, ainda nos dizem respeito. Mostram-nos um mundo onde a justiça é imperfeita, o amor perigoso e a liberdade uma ilusão frágil, filmados com uma beleza rigorosa e uma ambiguidade feroz. E talvez seja por isso que continuam tão vivos.
A programação reúne filmes de diferentes fases do noir, seguindo a classificação de Paul Schrader (Notes on Film Noir, 1972). Passamos pelo período de guerra e pela fase do detective privado e do lobo solitário, com destaques como The Maltese Falcon, The Big Sleep e Double Indemnity, ponte para o pós-guerra realista, representado por Dead Reckoning e Clash by Night. Concluímos com o existencialismo trágico do maravilhoso In a Lonely Place, emparelhado com Sorry, Wrong Number, que contrapõe o isolamento de Stanwyck à agressividade imprevisível de Bogart, refletindo a vulnerabilidade do género frente à masculinidade volátil.
Optou-se por não seguir uma ordem cronológica e, em vez disso, colocar lado a lado estes dois protagonistas, emparelhando as obras de forma a criar pontes temáticas. Afinal de contas esta edição é também uma homenagem a duas figuras centrais: Barbara Stanwyck, presença magnética e ambígua, capaz de condensar em cada gesto a força e o risco de ser mulher num mundo feito para homens, e Humphrey Bogart, o rosto do herói cínico, que traduz no corpo e na voz a tensão entre dureza exterior e humanidade interior.
Talvez pareça ambicioso sugerir, por quatro vezes, duas idas ao cinema em dias consecutivos. Especialmente numa ilha onde o fecho das salas de cinema, para dar lugar a uma cadeia de vestuário descartável, é motivo de regozijo e as considerações habituais sobre a morte do cinema. Ainda assim, arriscamos como em todos os filmes, com argumentos que por vezes falham para sustentar a tese de que, havendo um afecto que o justifique e uma massa crítica que a saiba apreciar, ir ao cinema regularmente poderá ser, como noutros sítios, um hábito cultural tão natural quanto uma ida ao café. Talvez quem esteja a morrer sejamos nós. Que este conjunto de filmes, de um período que nos dista por mais de 80 anos, possa ser a injecção (e lição) de jovialidade de que todos precisamos.
Pedro Pão (Programador)
Licenciou-se em Comunicação Social pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de
Lisboa.
Iniciou a sua atividade como membro efetivo da equipa de programação da Cinemateca Portuguesa – Museu do
Cinema em 1993, tendo dirigido o serviço de programação entre 2009 e 2015. Concebeu, e continua a
conceber,
múltiplos ciclos e outros acontecimentos de programação no âmbito desta instituição. Foi também
organizador
ou co-organizador de várias edições da Cinemateca, nomreadamente as dedicadas a Boris Barnet, Béla Tarr,
Jean-Luc Godard 1985-1999, Kenji Mizoguchi, Philippe Garrel, Stanley Kubrick, D.W. Griffith, David
Cronenberg, Otar Iosseliani, Jim Jarmusch, Roberto Rossellini, Jacques Rivette ou John Carpenter.
Como crítico escreve para o jornal Público, contribuindo semanalmente para o suplemento Ípsilon. Colaborou
pontualmente com outras publicações especializadas, nacionais e internacionais, e em programas televisivos
e
radiofónicos. Participou em diversos festivais de cinema em Portugal e no estrangeiro, tendo integrado o
júri do Festival IndieLisboa em 2004 e do DocLisboa em 2025, entre outros.
SCREENINGS, FUNCHAL:
O Screenings Funchal resulta de uma parceria com os Cinemas NOS que tem por objectivo defender,
impulsionar o cinema, e promover a cultura cinematográfica na Região Autónoma da Madeira. Além do aspecto
lúdico da cinefilia, procuramos o estímulo intelectual que o cinema proporciona.
Através de projecções regulares do melhor cinema independente de todo o mundo, nos Cinemas NOS do Fórum
Madeira, trazemos à RAM antestreias e estreias de filmes de realizadores emergentes e consagrados que de
outro modo ficariam de fora das nossas salas, tendo exibido até à data mais de 350 filmes de mais de 30
países.
Em paralelo com as nossas sessões regulares, desenvolvemos eventos em torno dos filmes exibidos, onde
frequentemente convidamos realizadores, actores e/ou equipa técnica a apresentar o filme e realizar uma
sessão de Q&A (Perguntas e Respostas) no final da sessão.
Além destas Q&A’s, promovemos sessões de debate e palestras com esses mesmos convidados, em conjunto com
os nossos inestimáveis parceiros.
O Screenings Funchal colabora com outras entidades na realização de ciclos, mostras ou sessões únicas de
cinema, incluindo cinema ao ar livre e respectivos eventos paralelos, apresentando sempre uma programação
de qualidade e com todos os cuidados para que essas sessões sejam memoráveis.