PORTA
Um filme de Francisco Janes, produzido pela PORTA33
No âmbito da exposição NA MARGEM DA PAISAGEM VEM O MUNDO
PORTA33, Galerias Municipais de Lisboa e Universidade Nova de Lisboa-FCSH

PORTA

de FRANCISCO JANES

Première PAVILHÃO BRANCO | LISBOA | 31 AGOSTO | 21h


SINOPSE

Nas ilhas de Porto Santo e Madeira um grupo de pessoas reune-se em torno do ensino através da arte. Com fragmentos visuais vívidos e desenhos musicais visitamos alguns encontros com a PORTA33, instituição com 30 anos de atividade, no território natural onde ela cresce. Desde o quotidiano das pessoas que projetam o futuro da Escola do Porto Santo e trabalham o dia a dia no Funchal, viajamos juntos num tempo fugaz através das paisagens do basalto e da Laurisilva. Ações simples e vestígios revelam como sombras o seu verdadeiro papel e desígnio. Primeiro no transporte das ideias naturais para o conhecimento de si: a infância e o desenho. Depois, na criação de um lugar único com a arte e a natureza, para um novo princípio do mesmo fim: o projeto vital de uma escola para o futuro.

SOBRE O FILME

Porta é uma curta metragem experimental que segue sons e visões de um breve encontro no tempo com pessoas da PORTA33 no seio da sua atividade. No momento imediatamente anterior à pandemia que agora vivemos, encontramo-nos testemunhas dos primeiros traços do seu projeto de futuro, na Escola do Porto Santo, e da sua atividade de longo fôlego no Funchal, com o ensino através da arte. O convite em aberto que a Porta me fez para realizar este filme chegou-me através de Nuno Faria que conhece bem o meu trabalho. Propuseram-me que investigasse nos meus próprios termos a natureza deste grupo de pessoas, através de uma intervenção documental, a partir do que iria acontecer e do que eu pudesse experienciar, descobrindo articulações com a natureza do território em que a Porta opera, dos lugares e cultura que vêm criando. Na ocasião dos 30 anos da instituição Nuno Faria criou e orientou um seminário intitulado ‘Mais importante que desenhar é afiar o lápis’ que reuniu artistas e pensadores diversos na Porta em torno do desenho, e do pensamento artístico como possível resposta para o futuro. A frase de Manuel Zimbro é uma engraçada e justa polissemia sobre a natureza do desenho em si, e parece refletir ainda com clareza a atividade estruturante de um grupo dedicado ao pensamento e ensino através da arte. A conclusão deste seminário foi também um primeiro encontro alargado na Escola do Porto Santo. Com a participação de professores e artesãos locais, o final do seminário deu lugar ao princípio do novo projeto, justamente como uma semente contem já a razão de uma vida.

PRODUÇÃO

Reunimos para a produção deste filme em duas ocasiões com um intervalo curto entre elas. Quase a chegar a 2020, estive nesse primeiro encontro no Porto Santo juntamente com todo o grupo. Ali éramos de fora, observadores ávidos que escutam pessoas, e procuram na matéria e nos ventos o que a paisagem poderá indicar. Nesse breve tempo, com atenção presenciámos o encontro com a escola, oscilando entre o centro e a orla de um discurso sobre aquele lugar e o novo projeto. Pouco depois do seminário, já em 2020, regressei à Ilha da Madeira para alguns dias na Porta. Durante esse período caminhei diariamente no interior da Ilha. A caminhada é essencial aos habitantes desde sempre, mas fez também parte da experiência de muitos dos que passaram pela Porta ao longo dos anos da sua história, com o seu pensamento e trabalho. Ajudou-me a mim ao caminhar, pensar o lugar e enquadrar o que via. Neste período estive entre as levadas e os encontros na Porta, recolhendo imagens e sons do exterior e do interior. Procurei nas atividades e no espaço em torno vestígios da sua origem e desígnio. A caminhada e a filmagem completam uma experiência comparável à de afiar o lápis, como quem toma consciência do desenho antes de o começar. Ao conhecer as Ilhas e atividades da Porta, avistei variações de um processo seu, antigo e essencial. Quis regista-lo no breve tempo do nosso encontro. A partir de então, ao avançar para estúdio deixou de ser importante a ordem exata dos documentos que ficaram. Num quadro de vestígios, relações internas tornam-se estrutura do filme, em vez de uma sequência linear. À medida que observo os fragmentos que ficaram do tempo do nosso encontro, tomo consciência das relações entre eles, e com a história. Cortei e montei para obter clareza sobre o que vi, e permitir uma experiência de significado nas suas ações. O filme que resulta da minha intervenção é uma meditação sobre mudança e propósito, que mostra situações numa posição presencial, lacónica, enquanto tece nas passagens a paisagem de um sentimento. Estende-se em viagem, numa sucessão de momentos, do mundo do quotidiano na Porta, do desenho e das visões de quem caminha. É um encontro fugaz onde se vislumbra nos sinais pequenos captados o índice do que importa a quem vemos trabalhar na imagem. Na Porta não distinguimos o trabalho das mãos e o caminho a caminhar da vida das plantas e dos sonhos.

MÚSICA

Desde o começo do projeto, de forma intuitiva a música esteve presente ao montar. Penso que a música é a atividade mais próxima do desenho para mim mesmo, e isso terá contribuído para a sua presença ‘na mesma sala’ com estas imagens e sons locais. Os trechos musicais que surgem na montagem são todos improvisações. Ao longo do período de pós-produção do filme criei uma série longa de desenhos musicais inspirados pela minha experiência e colaboração com a Porta.

Partilho uma montagem em esboço de excertos da primeira parte do filme que se passa no Porto Santo e em que a música surge já. Inclui nesta instância excerto gentilmente cedido por David Maranha (com Chris Corsano e Richard Youngs)

INSTALAÇÃO

A instalação que proponho é uma retroprojeção video HD suspensa (projetor e tela de retroprojeção suspensos), com som estéreo e possibilidade de caminhar à volta da imagem. O filme tem uma duração até 30 minutos e repete na projeção. A montagem audiovisual desfaz uma lógica cronológica, apresentando-se ao espaço com diferentes pontos de acesso, a duração a cargo dos visitantes. Começamos in medias res, e com o passar de cada sequência é a própria sucessão e intervalo entre elas que sugere e comunica. Não é importante por onde começamos a ver, ou se primeiro nos encontramos num espaço no Porto Santo, ou na Ilha da Madeira, quando estes se sucedem. Nas imagens resta a forma essencial dos planos e cenas que constituem a experiência, abertas a ligações, numa sucessão em quadros que perfaz o tempo da história. Os elementos sonoros são som de cena, diegético e não-diegético, ambientes e música.

Francisco Janes
franciscojanes@gmail.com

(Lisboa, 1981) É um artista e realizador independente Português cujo trabalho cresce em torno da experiência, e do som. Colabora de forma diversa em projetos de áreas interdisciplinares como publicidade, cinema, performance, ensino independente e arte contemporânea. Completou o Curso Avançado de Fotografia no Ar.Co seguido de um ano de projeto individual interdisciplinar em 2008. No mesmo ano foi Bolseiro Ernesto de Sousa, com residência na Experimental Intermedia Foundation em Nova Iorque. Na sua formação desde então os seus mentores incluem o compositor e realizador minimalista Phill Niblock, o artista e realizador estruturalista James Benning, o semiólogo e artista conceptual Afro-Americano Charles Gaines, e ainda os realizadores, académicos de cinema Thom Andersen e Peter Rose. Francisco completa em 2012 o Mestrado (Master of fine arts) no California Institute of the Arts em Los Angeles e muda-se dos Estados Unidos para a Lituânia em 2013, onde constituiu família e vive a maior parte do tempo.

As suas instalações, filmes e performances desenvolvem um interesse poético e antropológico pela natureza e o trabalho. Soltam uma combinação de tecidos perceptivos, formas e estratégias documentais para focar no mundo situações de libertação futura. A propósito do seu trabalho sonoro e visual, de origem documental, fala-se de algum cinema experimental Americano mas também da chamada etnografia sensorial, na aproximação contingente e materialista aos fragmentos - lacunas e seus sentidos.

Expõe o seu trabalho ao longo do tempo em lugares, contextos e ocasiões diversos. A sua filmografia inclui: Concílio, A manta vermelha (2008), Fissural (2009), Freeway (2010), Fridge, Morning Exercise e Last Chance Range, Benton Way (2011), Being There (2013). Realiza entre 2013 e 2015 o filme Gojus com um casal de artistas agricultores Lituanos que vivem isolados a alguns quilómetros de Vilnius. Em 2017 realiza o filme Visão Solar a partir do arquivo audio visual do artista Otelo M.F. . Em 2018 realiza uma série de filmes curtos sem título nos Açores, o filme Avistamento e o filme Regada, filmado na Serra do Açor com o artista Rafael Toral. Entre 2017 e 2020 participa com filmes, música e som nas performances coletivas Encontros para além da História, de Nuno Faria.

Em 2020 inaugura com Juratė Jarūlytė o lugar Casa Amarela próximo do lago Asvėja na Lituânia. Uma casa na floresta aberta a residências e encontros dedicados à observação e à ecologia através de práticas visuais, do movimento e do som.
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