VIME — O OBJECTO
Helena Cabral Fernandes
PORTA33 — 06.05.2023
Helena Cabral Fernandes
PORTA33 — 06.05.2023
O OBJECTO
Este projecto distingue-se pelo protagonismo do material VIME, cuja revitalização é de absoluta pertinência como material de grande qualidade artística, arquitetónica, histórica, pedagógica e ambiental. Servirá também como alerta para o planeamento e ordenamento do território, reabilitando uma matéria prima de recurso renovável, num panorama de emergência climática.O vime foi, na ilha da Madeira, um material abundante e tradicionalmente transformado em cestos e mobiliário, sobretudo na vila da Camacha, onde ainda vivem os últimos artesãos.
Para usar o vime numa dimensão mais artística, é fulcral conhecê-lo enquanto matéria. É uma haste que se extrai do vimeiro, planta de crescimento rápido em solos húmidos. Existem estudos a decorrer no Brasil sobre o vime como uma cultura de fitorremediação dos solos, o que confirma a excecionalidade deste material na sua vertente agrícola/ambiental. Na Madeira, o vime adquire características de especial qualidade, existe em calibre variado e pode ser usado inteiro ou rachado (liaça e miolo).
O projeto está dividido em 4 fases: investigação, interpretação, criação e divulgação.
Durante o processo criativo, pretende-se dar primazia a uma ética baseada na experiência. Testar os limites do material, criar tramas e trabalhar um tecido plano. Ampliar a escala de aplicação do vime – do cesto ao edifício, respeitando e ouvindo o material. A obra nova e original nasce da relação entre o artesão, que domina a técnica, e o artista/arquiteto/designer, que tem a visão. Como referências históricas, o Arts & Crafts e a Bauhaus. Como referência primeira, Anni Albers e “On Weaving”. Como referência artística, Lourdes Castro e o caminho das sombras, que encontra materialização perfeita na incidência da luz sobre as texturas infinitas do vime. Como referência ética/pedagógica, Bruno Munari com as publicações “I Laboratori Tattili” e “Arte como Ofício”. O produto final desta proposta será o Objeto artístico, composto pelo Objeto Modular, o Livro, e a Caixa que contém os dois primeiros elementos. O Objeto Modular é composto por vários painéis conectados entre si. É uma forma tridimensional aberta, à semelhança do THE TOY criado por Charles e Ray Eames em meados do séc.XX. Cada módulo procura uma técnica de “tecer o vime”, à semelhança da obra vasta da artista têxtil Anni Albers, explorando o sentido tátil, em contra corrente com a tendência dominante do virtual e do digital. O objetivo é sentir e percorrer o Material.
O Livro dá contexto, informa e explica sobre a origem, os processos, as tecnologias, os intervenientes e o “saber-fazer” inerente à obra. É um complemento material à peça, repositório de toda a experiência.
A Caixa acondiciona tanto o Objeto Modular como o Livro e permite a integridade o Objeto Artístico.
Helena Cabral Fernandes
Uma iniciativa em coprodução com Fractal — Suavamarelo associação Cultural
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