De um redescobrimento da cidade do Funchal imerge uma reflexão que toma como premissa principal o espaço como matéria que não pode ser dissociado do lugar onde se inscreve. A nossa quebra visual e física com a cidade do Funchal durante alguns anos permitiu que com a perceção alterada, a cidade fosse interpretada de maneira diferente.

Magda Pereira e Samuel Jarimba

Como noutros casos nesta exposição, a vivência fora do território insular de Magda Pereira (fotógrafa) e Samuel Jarimba (arquiteto) foi o ponto de partida para um trabalho de reme- moração crítica de uma realidade em permanente e, demasiadas vezes, pouco edificante, transformação. Uma estrutura estranha, entre um observatório e um confessionário laico, habita a sala longilínea da Ordem dos Arquitectos. Remetendo para processos construtivos ancestrais, esta peça de terra vermelha sustém um espelho que nos permite a visualização de fotografias dispostas no teto. Aí vislumbram-se nesgas de céu entrecortadas por edifícios de desenho anódino, numa dicotomia entre natureza e cultura, aqui não num sentido positivista, antes confrontativo. Daqui resulta que a referida ancestralidade da estrutura de acolhimento acabe por transmitir uma sensação de conforto e proximidade na sua circularidade orgânica que se vê agredida pela angulosidade preguiçosa das construções pseudomodernas que apenas cumprem desígnios de funcionalidade e eficácia económicas numa paisagem de- teriorada precisamente pela falta de vozes qualificadas no seu pensamento e desenho continuado.

Miguel Von Hafe Pérez