CRATERA, Arte e liberdade como escola
Duarte Belo

INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO
13 de abril 2024 — 16h30

ESCOLA DO PORTO SANTO

PROGRAMA PÚBLICO | PARTILHAR FAZERES

Workshops e passeio a pé, com Duarte Belo e Luísa Spínola
9 a 13 de Abril

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MAPA, VIAGEM, ARQUITECTURA*

Cratera. Não há crateras na ilha de Porto Santo. Mesmo tratando-se de uma ilha de génese vulcânica, o tempo apagou essas singulares formas associadas ao abatimento das chaminés de transporte de magma após as erupções. O pico de Ana Ferreira é um exemplo de um vulcão há muito extinto. Numa escala temporal alargada a ilha não é muito antiga. No entanto, os seus cerca de 14 milhões de anos, já permitiram a formação de rochas sedimentares. Uma cratera é uma superfície côncava que nos isola do exterior e nos mostra o céu. Porto Santo é o contrário de uma cratera. De quase todos os pontos da ilha conseguimos ver o mar, apesar de ter uma geografia com vários picos. A cratera é a Escola da Vila. Um lugar de paragem. Quando saímos das suas antigas salas de aula, temos um interminável mundo para descobrir. Com a ciência em pensamento e a arte como ferramenta operativa, daremos passos renovados sobre uma paisagem cintilante. Uma ilha para conhecer o mundo.

Porto Santo. Foi uma viagem extrema, um desejo de fotografar toda a terra. Um território limitado, uma ilha, mas de elevada complexidade, onde a terra fala, onde há um povoamento humano evolutivo, onde parece estar presente todo um retrato da contemporaneidade, da relação do homem com a natureza. Há uma escola, a tentativa de transmissão de conhecimento, já não em programas de ensino convencionais. Partilhar saber através da arte, do diálogo de diferentes expressões gráficas, no enquadramento de uma instituição que longamente tem trabalhado na expressão artística e poética, nas suas ramificações para o pensamento do mundo.

*(excerto das anotações de Duarte Belo da sua primeira residência na Escola do Porto Santo realizada entre 16 a 23 de Outubro de 2022)

CRATERA, ARTE E LIBERDADE COMO ESCOLA*

A exposição, Cratera, arte e liberdade como escola, resulta das duas residências de Duarte Belo realizadas na Escola do Porto Santo, em 2022 e 2023. Com formação em arquitetura, desde 1986 que trabalha no levantamento fotográfico sistemático da paisagem, formas de povoamento e arquiteturas em Portugal.
A Escola do Porto Santo é assumida por Duarte Belo como o ponto nodal da construção de um dispositivo visual baseado em percursos pedestres pelo espaço envolvente ao próprio edifício e que se estendem por toda a ilha de Porto Santo. Percursos fotografados aquando do caminhar, do movimento do corpo sobre a paisagem. São mostrados um número considerável de fotografias de cada uma das deslocações, de forma a que se consiga perceber a continuidade do espaço percorrido, da coerência da linha que é um somatório de pontos de vista que nos devolvem uma representação gráfica dos lugares percorridos.

A Escola é a metáfora do conhecimento do lugar, da ilha, do mundo. Dali partem e ali convergem todas as linhas efetuadas no processo de mapeamento fotográfico. É como uma geometria errática em que o único ponto de ancoragem é o edifício da Escola. Este conceito ficará particularmente evidenciado quando todos os itinerários pedestres forem implantados num mapa da ilha de Porto Santo. Estas linhas definirão uma nova cartografia, que nos devolverá uma posição, um sentido de pertença a um lugar, a uma geografia. Simultaneamente, este será um desenho abstrato, enigmático, a interpretação da terra como lugar de viagem permanente, de errância, da procura do sentido do próprio caminhar. São as linhas que escrevem os fragmentos do grande livro da vida que cada um de nós, a seu modo, transporta dentro de si. Habitar o Universo.

Em torno e com o extenso corpo de imagens fotográficas que Duarte Belo fez na Ilha do Porto Santo, esta exposição apresenta ainda um conjunto de desenhos realizados por 27 participantes, entre crianças e adultos, que frequentam as Oficinas de Desenho, concebidas por Luísa Spínola, que a Porta33 tem vindo a promover na Escola do Porto Santo. Expõem-se em relação com as fotografias de Duarte Belo um conjunto de exercícios de desenho com a participação de:

Mara Alves, Chris Campbell, Cláudia Gomes, Ana Ruel, Sérgio Lopes, Sara Costa, Filomena Fernandes, Ana Bela Costa, Astrid Schwalk, Vera Menezes, Jürgen Kucherer, Rita Alves, Simone Sousa, Ana Bela Ferreira, Cláudia Faria, Manuela Mota, Carmo Freitas, Nélio Camacho, Patrícia Sousa, Inês Fernandes, Constança Velosa, Francisco Menezes, Matias Velosa, Francisco Silva, Bárbara Camacho Silva, Francisco Camacho Silva, Maria João Sousa


Sobre as Oficinas de Desenho:

Pelas cuidadosas e cuidadoras mãos de Luísa Spínola, a Porta 33 tem assegurado um contínuo e plural conjunto de inspiradas oficinas dedicadas ao desenho. O desenho é a ferramenta que melhor desperta e traduz as forças e as energias que trazemos, por longos anos, por vezes, adormecidas ou reprimidas em nós. O desenho que para Bruce Nauman, grande artista norte-americano, equivale a pensar, é-nos íntimo desde a mais tenra idade. As crianças, que na Porta, justamente guiadas pelos bons desígnios do desenho, têm um espaço de liberdade para (ar)riscar e errar (no sentido de se poderem perder para melhor se poderem encontrar), convivem com o desenho enquanto espaço de constituição individual, enquanto primeira linguagem — como língua. O desenho é, portanto, um espaço e também um tempo. Convoca movimento e pausa, reflexão e acção, fluidez e hesitação, o corpo, o cérebro e o espírito, a memória, o inconsciente e, de forma tão bela como misteriosa, a capacidade de prever, de saber sem ter visto ou vivido, por antecipação. Esta exposição resulta de uma oficina que se prolongou por quatro sessões, em torno e com o extenso corpo de imagens fotográficas que Duarte Belo fez na Ilha do Porto Santo. Realizadas com um conjunto de 33 participantes, entre crianças e adultos, as oficinas foram, como habitualmente, concebidas por Luísa Spínola a partir de um conjunto de exercícios que propõem diferentes desafios. A questão primacial é de trabalhar a atenção, sem a qual tudo aparece desconectado, desligado. A segunda questão, como adivinhamos, é a ligação. Ligar as coisas é um trabalho constante de atenção ao mundo que nos rodeia, que cada um de nós permanentemente opera, de forma mais ou menos consciente. Ter clarividência dessa faculdade que temos — de estabelecer relações entre coisas diversas, relacionar o que aparentemente está separado — é uma conquista transformadora, que nos revela o inesgotável potencial amoroso na nossa existência. A terceira questão é a curiosidade: as plantas, os animais, as pessoas, os objectos, o vento, o mar, o sol, o ar, os insectos, os fenómenos naturais, as palavras, o som, e podíamos continuar e continuar e continuar — tudo é motivo de interesse para os curiosos. Inevitavelmente, a questão seguinte é a capacidade e a necessidade de fazermos escolhas. Tomar decisões, optar, decidir, são ações intrínsecas ao acto de desenhar. E à nossa vida, claro. O desenho como exercício é uma forma de preparação para a vida, por isso é tão importante. Aprender repetindo ajuda a interiorizar modos de fazer e de ver. Aprender é por isso esquecer que sabemos fazer. Como respirar. É estranha mas fértil a relação entre desenho e fotografia. Ao primeiro olhar, parecem não ter nenhum tipo de convivência. A fotografia surge aos nossos olhos como algo próximo da realidade, como se não entretecesse relações de invenção, de imaginação com o mundo e as coisas, como se fosse somente uma ilustração do que vemos, de como as coisas se apresentam aos nossos olhos. Para fazer descobrir o imenso mundo desconhecido da fotografia, mas também tudo aquilo que desconhecemos do mundo, mesmo dos lugares e dos seres que nos são mais próximos, nas oficinas de desenhos foram trabalhados “princípios e conceitos de bifurcação, simetria, impermanência, conexão, comunicação e conhecimento”.

Utilizando diferentes técnicas e materiais tais como a colagem, a impressão, o pastel de óleo, ceras e grafite, foram trabalhadas noções de espaço, forma, cor e luz. Pôr em causa o que julgamos conhecer, o que pensamos saber, é um precioso exercício de aprendizagem de nós mesmos e do mundo em que existimos. De uma assentada, as oficinas propiciaram aos participantes um conhecimento mais íntimo e clarividente de três segredos bem guardados: a fotografia, o Porto Santo e de eles próprios. Não é coisa pouca.

Nuno Faria Abril 2024

PROGRAMA PÚBLICO | PARTILHAR FAZERES
Workshops e passeio a pé, com Duarte Belo e Luísa Spínola
9 a 13 de Abril

Através de oficinas de desenho abertas à comunidade (três sessões semanais, iniciadas em Outubro 2023), coordenadas por Luísa Spínola, a PORTA33 tem vindo a formar grupos de trabalho permanentes na Escola do Porto Santo, que constituem, cada um deles, âncoras para a recepção e desenvolvimento de propostas dos artistas e criadores convidados a residir na Escola. Em correspondência a uma lógica de currículo local, este conjunto de oficinas abrange também a comunidade educativa e outras instituições sócio-culturais conjugando educação formal e não formal no exercício de estratégias de valorização de uma vivência cultural participada e sistemática necessária ao reconhecimento pessoal de cada um e à comunidade onde nos inserimos.
Depois de um intenso processo de mapeamento fotográfico da ilha, o objetivo deste regresso de Duarte Belo à Escola do Porto Santo é também o de partilhar com a população porto-santense e visitantes essa experiência e ir para além dela. Depois de muitos anos a aprimorar metodologias de trabalho, não apenas relacionadas com a recolha fotográfica, mas de todas as fases envolvidas no desenvolvimento de trabalhos criativos e documentais, o objetivo de Duarte Belo é agora transmitir uma parte desse saber. Desde a conceção de projetos até à montagem de uma exposição, há uma série de passos que podem ser, eles próprios, muitos estimulantes e enriquecedores. Da gestão de um arquivo de imagens, à feitura manual de suportes expositivos, como molduras em papel e cartão, há uma série de atividades que são mais acessíveis do que podemos pensar. Quando contactamos com os materiais, rapidamente nos apercebemos que as possibilidades que os oferecem são praticamente ilimitadas. Há mundos novos que se abrem nas oficinas de desenho e na caminhada que propomos, gratuitos e abertos à participação do público em geral.

Dias 9 e 10 Abril — Metodologias de trabalho no desenvolvimento de trabalhos criativos
18h — Escola da Vila
[para maiores de 12 anos]

Dia 11 Abril — Arquivo e Imagem, como organizar o meu arquivo fotográfico?
18h — Escola da Vila
[para maiores de 12 anos]

Dia 12 Abril — Trabalho de Campo e Fotografia, percurso a pé pela paisagem
15h30 — Início da caminhada na vereda do Matinho
Percurso PS PR3 - Vereda da Camacha, Caminho do Pico Castelo
17h30 — Fim da caminhada na Capela da Graça
[para maiores de 12 anos]

Dia 13 Abril — Exercícios de colagens a partir das imagens de Duarte Belo: elementos de uma paisagem, naturais e humanos.
11h — Escola da Vila
[para crianças dos 6 aos 12 anos]

Dia 13 Abril — Inauguração da exposição Cratera, Arte e liberdade como escola
16h30 — Escola da Vila
Seguida de uma apresentação de Duarte Belo

Escola do Porto Santo
Rua Dona Berta de Moura Teixeira de Aguiar
de segunda a sexta das 11 às 13horas e das 16 às 18h
ou noutro horário previamente solicitado.

T. +351 966 616 376
porta33@porta33.com

Biografia Duarte Belo Duarte Belo (Lisboa, 1968). Formação em arquitetura (1991). Desde 1986 que trabalha no levantamento fotográfico sistemático da paisagem, formas de povoamento e arquiteturas em Portugal. Este trabalho continuado em mais de 800.000 quilómetros percorridos em espaço português, deu origem a um arquivo fotográfico de cerca de 1.880.000 fotografias. Publicou vários livros sobre o tempo e a forma do território português, de que se destacam: Portugal — O Sabor da Terra (1997-1998), Portugal Património (2007-2008) e a trilogia Portugal: 15-5-20, composta pelos volumes Caminhar Oblíquo, Depois da Estrada e Viagem Maior (2020). De outros trabalhos editados em livro poderíamos referir Orlando Ribeiro — Seguido de uma viagem breve à Serra da Estrela (1999); O Vento Sobre a Terra (2002); À Superfície do Tempo (2002); Território em Espera (2005); Terras Templárias de Idanha (2006); Fogo Frio (2008); Portugal Luz e Sombra - O País depois de Orlando Ribeiro (2012); A Linha do Tua; Sabor-Mamoré (2013); Guadiana 86-14 (2014); Alberto Carneiro - Natureza Dentro (2017). Trabalha igualmente, sobretudo em suporte livro, sobre nomes relevantes da cultura portuguesa, como Alberto Carneiro, José Saramago, Maria Gabriela Llansol, Mário de Cesariny, Miguel Torga, Ruy Belo ou Sophia de Mello Breyner Andresen. Lecionou temas relacionados com a fotografia e a arquitetura. É editor do blog Cidade Infinita, que reúne textos e fotografias de reflexão sobre espaço, tempo e processo em fotografia. Expõe desde 1987 e participa regularmente em conferências e mesas redondas em temas relacionados com paisagem, arquitetura, Portugal e fotografia, nomeadamente metodologias de registo e arquivo de imagem. Trabalhou na curadoria de várias exposições. Está representado em diversas coleções em Portugal e no estrangeiro.

Biografia Luísa Spínola Maria Luísa de Freitas Spínola, nasceu no Funchal em 24 agosto 1962, possui Mestrado em Arte e Património no Contemporâneo e Atual, pela Universidade da Madeira, uma Pós-Graduação em Gestão. pelo ISCTE e Licenciatura em Artes Plásticas / Pintura pelo Instituto Superior de Arte e Design / Universidade da Madeira. Participa, desde 1994, em diversas exposições coletivas e individuais em diferentes áreas (pintura, fotografia, serigrafia, desenho e instalação).
Ilustrou livros infantis, infanto-juvenis, poesia e um livro de crónicas. Em 2006 fundou e orienta o Atelier de Artes Plásticas Gatafunhos, espaço dedicado ao desenvolvimento da criatividade, sensibilidade e expressividade de crianças, jovens e adultos, que querem conhecer e experimentar diferentes técnicas de expressão artística, num processo criativo e lúdico. Desde novembro de 2017 o Atelier Gatafunhos funciona na Porta 33 com oficinas regulares, à terça, quarta e sábados, de setembro a junho. O propósito é a prática do desenho e do movimento do corpo a partir do programa expositivo com a colaboração, entre outros, dos convidados residentes, dos artistas convidados e da equipa da Porta33. De Março de 2020 a Agosto de 2023 foi diretora de Serviços do Gabinete de Imagem e Protocolo, do Gabinete do Secretário Regional de Educação, Ciência e Tecnologia do Governo Regional da Madeira.
Em torno do desenho, a partir de Setembro de 2023, na Escola do Porto Santo, Luísa Spínola tem vindo a formar grupos de trabalho permanentes trabalhando também com as escolas e as instituições sócio-culturais da ilha.

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